A Problemática da Felicidade

O título é um contra-senso em si mesmo, mas a felicidade se tornou um problema, justamente por ter se tornado obrigatória.
Sim, vivemos numa sociedade em que a tal felicidade baseia-se em bens de consumo, aliás, vivemos numa sociedade mercantilista, de interesses imediatistas, onde estabeleceu-se que o forte é quem deve dominar, onde devemos ter, em vez de ser; poder, em vez de realizar-se. Vivemos numa sociedade que delira no automático, nos desejos de consumo, nos relacionamentos imediatos, onde as pessoas são trocadas por coisas. Aliás, vivemos uma coisificação das pessoas e numa personificação das coisas. Já li ou ouvi isso em algum lugar.

Lógico que essa loucura toda nos aliena e nos infelicita e, no entanto, a sociedade cobra que você seja feliz a qualquer custo, mesmo que isso signifique a infelicidade do outro. Vive-se no truque, no jeitinho brasileiro, onde ouvimos uma pessoa com um sorriso, mas a estilhaçamos com nossos pensamentos carregados de preconceitos. Temos que nos vestir de acordo com a moda, seguirmos as tendências de comportamento, as dietas da moda, termos o carro do ano, o celular mais caro, e "ostentarmos". Banalizou-se a tal da ostentação. Banalizou-se as músicas vulgares, os palavrões ditos a qualquer hora e lugar, sem respeito a quem quer que seja.




Lógico que esse estado caótico nos desestabiliza mental e espiritualmente. Óbvio que, mais cedo ou mais tarde, nós adoeceríamos. Vivemos na pandemia depressiva, com as crises de pânico, os transtornos de ansiedade generalizada, que são todos terríveis e paralizantes. E, outro paradoxo é que não podemos aparentar tristeza... Não, ninguém consegue conceber que o outro esteja triste, infeliz, ele é obrigado a sorrir, a ser feliz.

Há diversas considerações a serem feitas. Uma delas está no livro Atitudes Renovadas, de Joanna de Ângelis, em que a benfeitora espiritual discorre um capítulo a respeito das Considerações sobre a Tristeza.

A tristeza faz parte de nossa natureza. Não é doentio. "A tristeza, porém, é um estado natural que ocorre com todas as pessoas, mesmo aquelas que vivenciam os mais extraordinários momentos de alegria. Pode ser considerada como uma pausa para a compreensão da existência, avançando no rumo ao júbilo."

Mesmo que a tal sociedade na qual estamos inseridos, tenha determinado que a alegria tem que ser um estado permanente, nós sabemos que não é possível. Não temos como estarmos rindo o tempo todo, fingindo algo que não sentimos, simplesmente para que possamos aparentar algo falso, fajuto.

Também não se trata de apologia a tristeza. Quando esta se torna sistemática, convém profunda averiguação, espiritual e psicológica, pois perdemos a alegria de viver, literalmente.

A felicidade deve ser um estado genuíno do ser. Faz parte da nossa constituição espiritual e independe de meios externos. Lógico que não vamos apregoar felicidade quando nos sentimos pra baixo, com a autoestima no lixo, desempregados, sem ter o que comer. Eu mesma não logro isso, e eu sou uma das pessoas mais suspeitas para falar sobre a felicidade, pois já vim de episódios de depressão e mesmo a TAG.

Mas, recentemente, o assunto "felicidade" começou a me chamar a atenção. Na medida que nos voltamos mais aos valores ético-morais e espirituais, essa temática passa a ter outra relevância em nossas vidas, que vai muito além do que a sociedade determina.

A felicidade baseia-se nos princípios do amor, da caridade, da justiça, da fraternidade, da gratidão. Não é algo que temos apenas para nós, mas um bem inestimável, o tesouro que construímos nos céus e não na Terra. É a casa edificada na rocha. A felicidade não é o carro ou a casa, o celular do último tipo ou a fama desvairada. Tudo isso passa e se nos apegamos à todas essas coisas, então estamos edificando nossa casa na areia, em que o mar da vida, com suas intempéries, tudo arrasará, nos mostrando que toda vaidade, do egoísmo e materialismo são vãos.

Todas essas coisas tem seus respectivos valores, mas nós acabamos nos apegando demais, iludidos pelas fugazes belezas deste mundo. Tudo o que temos devemos agradecer a Deus, mas tudo o que temos é por algum tempo, mas o que temos de nós mesmo são os nossos valores, o que guardamos na alma, os nossos conhecimentos, e todo o bem que pudermos fazer.


Um abraço fraterno a todos!








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